segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Existe economia ao se utilizar o velho e ultrapassado interferon convencional?

Em 25 de agosto último publiquei uma analise que realizei para mostrar que não é econômico o governo continuar a utilizar o interferon convencional no tratamento dos genótipos 2 e 3 da hepatite C. Aquilo que aparentemente parece ser mais econômico acaba, na realidade, resultando em um gasto muito maior, alem de judiar com os pacientes ao os submeter a tratamento com menor possibilidade cura. O artigo "Existe alguma economia utilizando o interferon convencional no tratamento dos genótipos 2 e 3 da hepatite C?" é encontrado em http://hepato.com:80/p_tratamentos_medicos/convencional_versus_peguilado_20090825.html

Vejo com agrado que um grupo que inclui respeitados pesquisadores apresentou no Congresso Brasileiro de Hepatologia um estudo comparativo, chegando a conclusão semelhante.

O curioso é que o estudo foi realizado no Rio Grande do Sul, estado onde existem gestores, alguns até atuando como consultores do ministério da saúde, que desejam que seja utilizado somente o interferon convencional, argumentando que o interferon peguilado e muito caro. Não sabem o mal que estão fazendo a saúde de seus irmãos. Parece que chegaram a ocupar os cargos públicos indicados para defender a ação do vírus e não para combater a epidemia.

A seguir coloco o resumo do estudo na integra, tal qual foi publicado.

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo


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CUSTO "SUS" DE DUAS ESTRATÉGIAS PARA TRATAMENTO DE PACIENTES COM HEPATITE CRONICA C GENÓTIPO 2/3: PEG + RIBAVIRINA VS IFN + RIBAVIRINA

CHEINQUER, H; WOLFF, FH; CHEINQUER, N; ZWIRTES RF; STIFT J; SAMUEL M. - SERVIÇO DE GASTROENTEROLOGIA DO HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE, RS. FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, PORTO ALEGRE, RS - BRASIL.

Introdução e Objetivos:

O tratamento da hepatite C com genótipo 2 e 3 no Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) é realizado com interferon (IFN) e ribavirina (RBV) por 24 semanas, sendo que pacientes sem resposta virológica sustentada (RVS) recebem tratamento com interferon peguilado (PEG) e RBV por 48 semanas (Portaria SVS nº34, de 28/09/07).

Entretanto, consensos internacionais indicam PEG e RBV por 24 semanas como primeira linha de tratamento. O objetivo do presente estudo é comparar o custo direto relacionado à medicação nestas duas estratégias no âmbito do SUS.

Material e Métodos:

Foi criada árvore de decisão para a estratégia A (Portaria 34/07) e estratégia B (consensos internacionais) considerando as diferentes probabilidades de desfecho do tratamento para simulação com 1.000 pacientes com genótipo 2 e 3.

Estratégia A: RVS em 400 pacientes (40%) após 24 semanas de IFN+RBV; novo tratamento com PEG+RBV em 550 pacientes (55%), sendo que destes 385 pacientes (70%) usariam por 48 semanas e 165 (30%) interromperiam prematuramente: 55 pacientes em 24 semanas por não resposta, 55 pacientes em 24 semanas por interrupção prematura e 55 pacientes em 12 semanas por queda do RNA-VHC inferior a 2 log.

Estratégia B: 800 pacientes (80%) usam PEG+RBV por 24 semanas; 200 pacientes (20%) interrompem após 12 semanas em média: 100 pacientes por não resposta (queda do RNA-VHC inferior a 2 log) e 100 pacientes por eventos adversos.

As probabilidades dos desfechos empregadas nesta análise foram extraídas da literatura nacional sempre que possível.

Assumiu-se custo zero para o primeiro tratamento com IFN na estratégia A e para RBV em ambas as estratégias. O custo do PEG-IFN para o SUS foi estimado em R$ 400,00 por dose (comunicação pessoal e publicação na imprensa leiga).

Resultados:

Estratégia A: custo global para o tratamento simulado de 1.000 pacientes com genótipo 2 e 3 com IFN+RBV por até 24 semanas seguido por PEG+RBV por até 48 semanas: R$ 8.712.000,00.

Estratégia B: custo global para o tratamento simulado de 1.000 pacientes com genótipo 2 e 3 com PEG+RBV por até 24 semanas: R$ 8.640.000,00.

Conclusões:

A estratégia adotada atualmente pelo SUS para o tratamento da hepatite C no genótipo 2 e 3 além de potencialmente expor grande parte dos indivíduos a dois tratamentos, perfazendo até 72 semanas de tratamento total, não confere vantagem em termos de custos. Este dado torna-se ainda mais relevante considerando que a presente análise foi conservadora ao atribuir custo zero ao IFN e não considerar os custos indiretos, financeiros e pessoais associados ao maior tempo de tratamento.